sábado, 15 de fevereiro de 2014

Sonhos Vermelhos

Corpo coberto de nódoas negras, desenhadas por entre tinta da china e lápis de cera, cada qual com o melhor tom de preto, verde amarelado cor de vómito, rosada cor de pele quase sarada.
Escorrem veios de tinta negra avermelhada, também denominada corrente sanguínea.

Esquisito como a dor, às vezes, é tão boa.


Respiração aliviada, de quem pensava sufocar na hemorragia cerebral de um acumular de sentimentos, de uma distância a tudo e a todos que parecem pairar apenas nas ruas aqui ao pé de casa.
Casa?
Como saber se é realmente aqui que estou?

De cabeça perdida no firmamento, com estrelas de sangue a reluzir por detrás das pálpebras de um olhar cansado, transmissor daquela doença tão frequente de não saber de que época somos, e se existimos mesmo.


A comida retém o sabor - aquele que sempre teve - e a água mantém-se inodora...
Só o sangue que corre exprime existência, afirma vida... Ou talvez não, sabe-se lá...

Provo-o, sugando de mim o meu néctar das profundezas, vindo de todo o eu, que corre com um certo descontrolo por todos os órgãos, mágoas de mim.

Ora, textura líquida e férreo sabor, como chocolate perverso da noite.

A garganta reclama, não sei se de fome se de inocência de não saber o que lhe dou a provar.

Canibalizo-me. Engulo pedaços do eu, que regurgito de novo e que voltam à superfície.
As pupilas dilatam, nervosas, pequenos faróis de um mundo impenetrável que é o meu.

Cabeça

                              cada qual tem a sua
em cada sítio distinto. 

Maravilhoso mundo, com o qual sonho noites
                                                                                dias
sem fim.

Acorda.

6 comentários:

  1. "Cabeça
    cada qual tem a sua
    em cada sítio distinto. "

    adorei, tens uma escrita genial, já te tinham dito?:)

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  2. muitíssimo obrigada por comentários tão positivos ao que escrevo, aquecem-me o coração :')

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. a maneira como escreveste este texto diz-me muito; a profundidade, as palavras... fez-me lembrar de todas as vezes em que também questiono o meu "eu".
    continua assim*

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  5. oh, sou tão igual, uma devoradora de livros compulsiva!! vou seguir os teus conselhos e meter o autor que disseste na minha lista de espera para livros a comprar, depois digo-te o resultado:))

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  6. ler-te desperta sempre em mim tamanhas emoções, as tuas palavras são como que um livro aberto daquilo que o meu coração fecha. como gosto disto aqui.

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