segunda-feira, 31 de março de 2014

Por detrás de cortinas que balançam pela brisa do fim de tarde,

lá fora chove, embelezando o mundo como fazes comigo

resguardada num casulo feito de carne quente e respiração acelerada, por entre rasgões de unhas e dentes, num anseio de te ter só para mim, num instante
                                                                                                                 infinito
                                                                                                                                que dure para sempre.
Quantas vezes quis contar as estrelas sem as ver? E de que forma, ao olhar nos teus olhos, sei de cor cada constelação
Norte e Sul, misturados apenas num céu
                           que se passeia no silêncio de nós.
Murmúrios parvos, em sorrisos há muito esquecidos
                                                                                                             felicidade de ser eu contigo.
Suspiro, sã e salva, afogando-me aos pedaços sem me importar de submergir,
                                                                                                                                                             respiro em ti, debaixo de água.
                                                                                                                                                                peixe dentro de água.
A noite chega, cai sobre mim na outra ponta do mundo - ou assim parece. Onde apenas o cheiro de ti em mim e as memórias de mim contigo servem para adormecer sozinha
cobertores desarranjados, relembrem-me

dele
                                                                                                                                              por entre as luzes detrás das minhas pálpebras e a ansiedade de estar de novo,
                                                                                     "três metros acima do céu", contigo.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Saram-me as feridas de sorrisos negros, escondidos por entre vermelhos e cores de infeção. Chovo de mim tudo o que de mal carrego.
Gata Branca, de patas de almofada, em ti pouso a minha cabeça de nuvem negra, ligeiramente mais clara, com toda a falta que me fazias, assim longe de mim sendo eu tu, e tu um pedaço construtor de mim. Voltaste, nas asas de uma borboleta, a nenhuma de nós desconhecida; asas de uma beleza de cortar

a respiração; pausa na tristeza que nos invade a ambas desde
                                                                                                                                 sabe-se lá quando.

Ergo os olhos, durante a noite,  talvez como joaninha vampira, de asas pequeninas em corpo gigante, sede insaciável de ti, príncipe das minhas trevas, sol do dia,
Empurra suavemente as nuvens em mim

                                                                                      pois brilhas
novamente as tuas palavras me arrancam ao torpor de ser eu
                                                                                       bem acima de todos, dentro de um cantinho só teu, feito de espelhos e escadarias, cada qual mais belo do que (costumavam... são estas as visões de enamorada?) vi alguma vez. E bem que abro os olhos, mas encadeia-me o teu brilho.

"You're the one for me, you know that, right?"
Como te explico os vícios nas tuas palavras, o observar distante sempre em direção ao norte... ao meu, não da bússola, invejosa

que arranje o dela,
aponta-me caminhos que nunca foram os corretos
nunca me deu oportunidade de seguir em frente.

Batimentos acelerados diariamente. Todos eles em mim, e penso que
sou tão pequena, para sentimento tão grande. Que bom perder-me em ti, que és
tão maior que eu nesse teu coração gigante.

 Limpam-se crateras, abrem-se braços. Aprende-se a falar uma língua desconhecida, maioritariamente formada por trocas de olhares e o ato de deixar para trás tudo
só te sigo.

 Como explico a histeria do ser, num murmúrio calado que é alegria furiosa
                                                                                                                                                          furacão de estar contigo
dos teus braços?

Lua Nova seja eu, enquanto fores as estrelas da noite.

domingo, 16 de março de 2014

De cabeça encostada a almofadas que são minhas, ou que parecem pertencer-me na maioria das vezes, obrigo olhos teimosos a fechar e a refletir. É uma coisa engraçada, esta de esvaziar a mente, e pensar em nada mais do que naquilo que a pele sente.
Miríade de linhas desenhadas por toda a parte, algumas rápidas, outras lentas. Caminhos traçados por entre avenidas desconhecidas de sermos nós dois.


Baralha-me, assim no silêncio da noite, contaminado por música injetada diretamente nos tímpanos e por letras no ecrã,
mensagens no telemóvel;
imaginar que passam horas sem que me aperceba.

Cada dia parece a conta dos que faltam para os outros acabarem. O problema, é que assim tudo passa depressa. Não só os momentos desnecessários de sobreviver com falta de ar, de cabeça nas nuvens

ou ao pé de ti
enquanto que estou tão longe; como os segundos feitos tardes, que se evaporam entre sorrisos.
Respiração acelerada, porque há tão pouco de ti que posso absorver em quantidades mínimas de mim, que é preciso cada vez mais ferocidade carinhosa.

Olhos abertos.
Estive a sonhar. E falta pouco,

para mais um dia
é quase hora zero, meias noites de dias só vividos às metades
a sonhar contigo.

A luz branca acende. Nova mensagem.

"And I intend to keep you"
E eu quero manter-te, também. Por entre
doses de mim, só para
sorrisos teus.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Nem sempre é fácil, por exemplo quando se perde uma nota de música, mutilando o seu som. Parece que, por momentos, a escala fica incompleta.
Mas o que se passa é que as decisões tomadas foram as melhores. Não há medo, tristeza profunda em mim, apenas um ligeiro arranhão de culpa, que me diz que magoei sem necessidade, mas que se ficasse tudo se auto-destruiria.


Então, estou livre, como na realidade sempre estive, porque não havia corda que me prendesse ao chão. Faço parte das nuvens.

E, no entanto, como explicar que só veja nuvens no céu?
Escuridão da noite, em todo o lugar para onde vou,

                                                                                                         saltos de pedra em pedra, na esperança de descobrir um abrigo meio destruído pela Natureza,
tal e qual eu.

Campo de ervas altas, trevos - de três folhas, mas - como se de quatro, sortudos.
Antes, feriam-me a pele, feitos de memórias indesejadas.

Agora... Flores amarelas. Dás-me sorte
olha, constantemente.

Engraçado, mas de tarde também se observam estrelas no firmamento.


"Pois tu é que acho que às vezes não te vês bem"

Vou contar-te um segredo:

Vejo-me melhor quando te olho sem te aperceberes.

Shiu. Não contes a ninguém.

terça-feira, 4 de março de 2014

Devo dizer que não estava à espera, nada havia capaz de predizer que a escuridão lá fora seria, por uma vez, maior do que a que está dentro.

A chuva cai com toda a força, mas paralisa por instantes, apenas o tempo que leva a um guarda-chuva atravessar as ruas.
Nunca gostei tanto que chovesse.

Lá dentro, bem longe da realidade, há qualquer coisa empilhada nas mesas, no sofá, nas estantes. Algo desconhecido, mas que secretamente acalma pensamentos turbulentos e mãos que são quase sempre incapazes de estar quietas.
                                                       E que costumam estar geladas, de agitadas e nervosas. Hoje, estiveram quentes, calmas. É esse o efeito que tens em mim.

Cada momento em que volto a tocar com os pés no chão, essa realidade gelada e invernal deste meu pequeno espaço, dos meus cobertores, do meu suposto refúgio, lembro-me do teu. Não é que eles estejam bem assentes na terra, porque enquanto se corre pela floresta, como diz a música, sons penetrantes misturados com o psicadélico do verde e do rosa-roxo, corro para o nada e por lugar nenhum, a ouvir vozes, muitas. Nem todas boas.

Mas não faz mal, desde que esteja contigo.
Não há mais para onde ir, nenhum sítio para onde regressar se não este.


Entro sabe-se lá como que espécie de furacão que tudo consome. Por isso peço desculpa.
Não sair, no entanto, é a única coisa da qual tenho certeza.

Garanto.
Não escolho outro caminho, outra encruzilhada.
Não há mais por onde o fazer.

Acredita.

É, simplesmente, verdade.