Desaparecemos no tempo, sombras de ninguém, espelhos de qualquer um.
É o quanto basta.
Esfumando-nos, apreendemos a efemeridade do mundo.
Afinal, as sombras só saem no vazio da luz.
domingo, 12 de junho de 2016
terça-feira, 19 de janeiro de 2016
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
domingo, 4 de outubro de 2015
Excertos
Minutos para o anoitecer.
Agigantava-se
a maré de nevoeiro, que anunciava uma descida inesperada da temperatura.
A
porta vibrou, mal toquei à campainha. Ponderei há quanto tempo estaria parado
ali atrás, de pé. À minha espera.
A
luz morta dos elevadores nunca me tinha parecido atraente. Sempre que lá ia,
era a primeira coisa que me avisava que, talvez, devesse voltar para trás.
A
primeira noite em que visitara Charlie seria também a última em que punha os
pés num elevador. O barulho das roldanas, o cheiro a mofo, a luz a piscar no
teto.
O
espelho baço, onde vi refletida a minha face. Rímel. Maquilhagem preta nos
olhos, algo carregada.
O
que vi... Esse foi o aviso número dois.
Escadas.
Ele
já não me esperava por detrás da porta, como fizera no primeiro mês. Não
precisei de me anunciar.
- Pizza?
Há
muitas formas de fazer perguntas. Ele costumava tentar alimentar-me para não
ver a resposta nos meus olhos.
- Obrigada - não comi. Em vez
disso, fiquei a observá-lo. Estava embriagado.
- Tu sabes... sabes que és única!
Entendes-me, naquelas situações.
Ia
ser uma longa noite.
- Estás bêbado.
- Não! Há nitidez naquilo que digo,
entendes-me?
- Sim.
Fatia
de pizza na mão. Boca repleta de migalhas.
- Vamos para a cama.
Que
maneira crua de dizer a alguém que a quer amar.
- Não estás bem.
Não
era uma pergunta.
- Estou ótimo.
Não era uma resposta.
Não era uma resposta.
Vou-me
embora.
"Por
favor. Fica."
Quem
nunca ouviu um apelo doloroso da alma, nunca saberá porque é que fica parado no
mesmo sítio, quando o que realmente quer é ir embora.
Aviso
número três.
Fiquei.
domingo, 13 de setembro de 2015
Sou uma cicatriz.
Ela costumava dizê-lo, nas horas em que o vento soprava com mais força, pejado de restos de espigas e de relva da cor dos prados verdejantes.
Sou uma cicatriz.
Movia-se em corridas loucas como se depressa, cada vez mais depressa, fosse a única forma de escapar das garras do ar irrespirável, dos convites loucos da vida para rebolar e despedaçar a carne, por entre rasgões no vestido.
Num pequeno soluço de vitória, cobre-se o solo de pétalas douradas do Outono que chega, confiante de que dará azo ao Inverno dos meus sonhos, neves cintilantes e fora do pânico de desaparecer nos céus carregados de poluição.
Abandonados todos os seus pertences e navegando confiante por entre as ervas daninhas, carrega no peito o fardo intenso da partida há muito desejada.
E depois de ir
como volto para ti?
Ela costumava dizê-lo, nas horas em que o vento soprava com mais força, pejado de restos de espigas e de relva da cor dos prados verdejantes.
Sou uma cicatriz.
Movia-se em corridas loucas como se depressa, cada vez mais depressa, fosse a única forma de escapar das garras do ar irrespirável, dos convites loucos da vida para rebolar e despedaçar a carne, por entre rasgões no vestido.
Num pequeno soluço de vitória, cobre-se o solo de pétalas douradas do Outono que chega, confiante de que dará azo ao Inverno dos meus sonhos, neves cintilantes e fora do pânico de desaparecer nos céus carregados de poluição.
Abandonados todos os seus pertences e navegando confiante por entre as ervas daninhas, carrega no peito o fardo intenso da partida há muito desejada.
E depois de ir
como volto para ti?
quarta-feira, 8 de julho de 2015
Poesias desertas
Compreender não é o mesmo que saber porquê,
e deleito-me nesses mares vazios, de confrontos de espuma onde não existem ondas
ou o mesmo que sentir que há razão de ser para ser assim.
Esparramado o meu sangue pelas cobertas, invisível, sonhado como sempre.
Sonho com morte em noite esbranquiçada, pelas pregas das cortinas e entrelaçada na chiadeira da persiana, que se mantém fechada em revolta
dessa fachada minha onde só existem poesias de carne no peito da página
Devoro todas as palavras e compreendo que não funcione, embora funcionar seja de máquina, e não humano. Não expliquem as vozes o que sentem peitos, porque não sabem o que dizem.
Conveniências a mais e sensações a menos, explodem securas e pensamentos atrozes
odeio estar no ambíguo de mim mesma
que não revelam nada mais do que bocas que se devoram em pensamentos.
Retrocedem mãos que não se querem mas que conhecem o familiar delas mesmas.
É triste ou será só poético?
E poesia é uma vida no deserto.
e deleito-me nesses mares vazios, de confrontos de espuma onde não existem ondas
ou o mesmo que sentir que há razão de ser para ser assim.
Esparramado o meu sangue pelas cobertas, invisível, sonhado como sempre.
Sonho com morte em noite esbranquiçada, pelas pregas das cortinas e entrelaçada na chiadeira da persiana, que se mantém fechada em revolta
dessa fachada minha onde só existem poesias de carne no peito da página
Devoro todas as palavras e compreendo que não funcione, embora funcionar seja de máquina, e não humano. Não expliquem as vozes o que sentem peitos, porque não sabem o que dizem.
Conveniências a mais e sensações a menos, explodem securas e pensamentos atrozes
odeio estar no ambíguo de mim mesma
que não revelam nada mais do que bocas que se devoram em pensamentos.
Retrocedem mãos que não se querem mas que conhecem o familiar delas mesmas.
É triste ou será só poético?
E poesia é uma vida no deserto.
quinta-feira, 18 de junho de 2015
Preciso de mais, mais, sempre mais, que não me dá vontade de viver. Corrompo-me desesperadamente a tentar ser eu, testando meios de me afundar num oceano de onde não há volta.
Negras são as águas que correm no meu pensamento, eclipsando o sol lá de fora. Negras são também as nuvens, as sombras, que vejo como se me seguissem incessantemente, quais deuses da má fortuna.
Vitaminas. Não. Não, não.
Preciso de viver, por entre a calamidade da escuridão, pintar os olhos de negras cores, veludos que desfaçam a tristeza e deixem apenas a raiva de não saber quem sou.
Quantas mil vezes pergunto se há forma de escapar de quem somos. Acho que a pergunta correta é quando é que finalmente descobrimos a nossa essência.
Chuvas de raios solares, e não é tudo o que preciso esfumar de mim a necessidade de fugir aos desafios, cortar o que me prende como se marioneta defeituosa.
O céu desaba em mim por se manter no sítio.
Negras são as águas que correm no meu pensamento, eclipsando o sol lá de fora. Negras são também as nuvens, as sombras, que vejo como se me seguissem incessantemente, quais deuses da má fortuna.
Vitaminas. Não. Não, não.
Preciso de viver, por entre a calamidade da escuridão, pintar os olhos de negras cores, veludos que desfaçam a tristeza e deixem apenas a raiva de não saber quem sou.
Quantas mil vezes pergunto se há forma de escapar de quem somos. Acho que a pergunta correta é quando é que finalmente descobrimos a nossa essência.
Chuvas de raios solares, e não é tudo o que preciso esfumar de mim a necessidade de fugir aos desafios, cortar o que me prende como se marioneta defeituosa.
O céu desaba em mim por se manter no sítio.
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