sábado, 7 de dezembro de 2013

A Escuridão do Jardim

Destruo-me no meio do negro, automaticamente, sem reflexões idiotas. Dou ouvidos às minhas vozes, que gritam em fúria cá dentro, e não saem para respirar o ar frio da noite.
Já não sei o que digo. As palavras seguem-se, uma após a outra, e eu gostava de saber se procuro convencer-te, ou se desejo acreditar eu própria no que digo. E sei lá o que isso

...é!
De nada serve apertares-me contra o teu peito enquanto a tua cabeça repousa longe da minha. Colo em ti as minhas mãos quentes, na esperança que te despertem.
Desculpa, acordei-te? Olha, fala comigo um pouco, porque me sinto só.
Ouvem-se apenas suspiros, e a erva faz cócegas às sombras. Há vento lá fora, muito leve, que vem bater à porta.
Quem és? Quem sou?
Ninguém permanece acordado no silêncio pesado da noite.
Beijo-te as pálpebras e relembro o teu toque, como que lenha na lareira que sou eu, no fogo em que me transformo, e na chama consumada e fria que fico, quando estás no teu mundo.
Fecho os olhos, estremeço. É madrugada outra vez. E outra, outra...
Madrugada, sim.
Mas nem o Sol que nasce, nem o teu coração que bate ao pé de mim, afastam a escuridão.
Ela? Apodera-se do jardim.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Caderno de Pensamentos (2)

Divago.
Tudo me parece um ruído de fundo, sem significado.
A luz desce, devagar (apaga), condenando-me à escuridão (negro)
(Onde? Onde estou? Quem são vocês?) vozes, que me transmitem pensamentos demasiado pesados (este corpo não é meu), para mim.
Fragmentos de visões, esbatidas, como cera que escorre das velas (frio), sem o calor que costumam transmitir.
Tenho frio, (o meu coração bate, devagar, enregelado, cristalizando aos poucos) dentro de mim.
Memórias de feridas abertas, paralelas a mim (o verniz lasca, lentamente), de onde jorram mágoas e pedaços de um ser que não é nada... (consome-me) ser, só uma imagem parada num espelho, reflexo inexistente de algo (escapou) distante.
Sombras bailam distraidamente por detrás das minhas pálpebras. E é-me familiar esta sensação.
(leva-me... tira-me daqui, por favor, por favor!)

Escuridão... Vem (desculpa...)
Leva-me contigo, através do tempo. (Tenta entender que...)

("O TODO É MAIS DO QUE A SOMA DAS PARTES")... e quando não sabes do que és feito???

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Fim do Mundo


Nem sei se ainda tenho sombra, ou se apenas duvido dos batimentos do meu coração.
Estou encarcerada, nas quatro paredes que formam o meu ser. Não sei de mim, tal como tu.
Estranhamente, dás-me a mão, percorrendo comigo esse nosso caminho, que não vai ter a nenhum lado.
A tua voz chama por mim, desperta batimentos irregulares, leva-me pela mão através de um certo país das maravilhas, todo ele meio apagado, cheio de tudo aquilo do qual desejo fugir, escapar. País das Maravilhas impiedoso, como já dizia Murakami. No fim de tudo, ele é que tinha razão.
Diz-me, consegues trazer de volta o meu coração? Vai tudo ficar bem?
É que tenho medo. Do frio nas minhas mãos, da escuridão do céu, das sombras que me fogem por entre os dedos, do passado que não agarrei e do futuro que me escapa.
Tu também tens medo. Só que os teus medos são diferentes dos meus.
Beija-me, bem no topo da cabeça. E sussurra-me, à medida que o vento revolteia os meus cabelos, e tento tocar-te; tu que me escapas

estás tão perto, mas sinto-te tão longe


Vai ficar tudo bem. Amo-te.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Caderno de Pensamentos (1)

Pedras na calçada são tudo o que vejo.
Pedras na calçada, silenciosas, que não parecem despertar com os nossos passos de gigante, que ressoam nos meus ouvidos parcialmente ensurdecidos;


e sapatos negros que parecem esperar não se sabe bem o quê.

Luzes, negro. Reflexos. O som da água a brotar das magníficas bestas aladas que parecem sobrepor-se a tudo o resto.
Um relance pelo canto do olho, e laranja e negro! ao redor, numa combinação ao mesmo tempo maravilhosa e nostálgica.


Uma sombra negra acerca-se de mim, levando-me por um momento através da entrada para um mundo novo, onde me sinto alguém.
O toque repetido da água, que se mistura com o sangue que ferve nas veias...

... Está terminado.

Foi assim que renasci. 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O Meu Gelo

Sinto-me a afundar devagar, mas com uma certeza que me faz desatinar, bem no fundo deste oceano que corre cá dentro de mim.
Fecho os olhos, mas o sono não vem, não me apetece. Em vez disso, aproximam-se murmúrios no silêncio fixo da noite, conversas da minha imaginação. Comigo mesma, ou com outros, já nem sei mais, porque todos me parecem um, e um são exatamente todos, a gritar ao mesmo tempo, a exigir mais do que quero e posso dar.

As noites tornam-se frias, daquele tipo de gelo que se encerra nos ossos, no peito, e que se vai alojando timidamente, depois com mais força e depois à bruta.
Tenho frio, tenho um frio só meu.
E preciso desesperadamente do teu calor, antes que o gelo me cubra e me leve para as profundezas de mim mesma. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Alma Sem Cor

Através da cortina de pétalas de chuva, observo o dia a preto e branco, que parece transmitir, precisamente, o mundo que é o meu, sem ponta de cor, desnudo e mudo, completamente estilhaçado.
Há pedaços de mim em cada gota, lentamente me evado do meu corpo, deixo-o sozinho no colchão que começa a arrefecer, apenas com as lágrimas quentes para me manterem acompanhada.
E toda a sanidade colorida dos dias de Verão, se desfaz, ao mesmo tempo que abro os braços e acolho a minha amada escuridão, e ela se funde em mim, na minha alma sem cor.
"Olá, velha amiga" - diz ela.
Não respondo. Estou em casa, na minha alma descolorada, na chuva fria, nos dias cinzentos.
E, assim, começa de novo o ciclo invernoso e espiral da minha auto-destruição. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Desacreditar

Já há muito tempo que digo que me desacreditei em mostrar essa vulnerabilidade que todos parecem loucos por demonstrar quando se relacionam mais intimamente com algum ser que escape dos padrões da normalidade em que se inserem, nesse quotidiano em que querem (ou quererão mesmo?) prender-se e desaparecer do foco de luz.
Torna-se difícil para mim aceitar esse despir da alma - sim, porque despir o corpo chega a ser fácil, como uma tarefa de rotina, despir a alma é mais difícil, nem connosco próprios o fazemos como deve de ser - a outro ser, que passa a possuir-nos por inteiro porque lhe damos permissão.

Eu sou minha. Como é possível que me queira partilhar, cheia de defeitos assustadores e qualidades hipotéticas e exageradamente exageradas pelos que me são queridos?
Sim, é complicado confiar em alguém quando me rodeio de situações parecidas que não resultam. Será porque não encontraram a pessoa para a qual se deviam desnudar? Não acredito nisso, relações são fruto de trabalho e não de acaso e sorte.
Então, devo desacreditar-me a mim mesma numa procura incessante pelo abrir do casulo a outrem, e aconselhar que façam o mesmo, ou estou realmente certa e a alma é nossa, e somos nós quem, no fim, se encontra de pé sozinho?