sábado, 22 de outubro de 2011

Amor de Laboratório

Amor químico, rodeado de frasquinhos coloridos, de pipetas e amostras, de terra e folhas.
Num recanto sossegado, onde ninguém os pode ouvir, segredam. Murmuram segredos de amantes.
Conversam de momentos que já passaram, e de momentos que ainda virão.

E sorriem, envergonham-se. Escondem-se uns nos outros, misturando-se.
"Ia dar-te um beijo" - e riem, nervosos.

Amor químico este. Um amor de laboratório.

sábado, 15 de outubro de 2011

Instante







Ela estava de costas voltadas, atenta, com o olhar cravado no quadro.


Costas erectas, na espectativa, sem se atrever a desejar nada.


Vozes, silêncio, textos, risos, silêncio.


Murmúrios, silêncio, pausas silêncio.


Desiste de já nem sabe o quê. Concentra-se, porque antes divagara. Endireita-se.


E então, suave como um beijo calado, um toque, uma sensação.


E esse extraordinário ser que se senta atrás dela brinca com os seus cabelos ondulados, desarranjados de Educação Física.


Enrola o cabelo dela nos seus dedos, larga, enrola de novo, como se transmitisse algo que só eles compreendem.


E, depois, a campainha toca e interrompe tudo e todos. Todos os murmúrios, todos os silêncios.


Eles caminham juntos, e ignoram perfeitamente o sucedido.


E, ainda assim, querem-se mais do que ao mundo.