terça-feira, 2 de setembro de 2014

Retrocedem as marés, deglutindo-se por poderes maiores de quem governa os grãos de areia.
Passam mil vezes mil e uma vezes os metros, em ambas as direções distorcidas de uma realidade de alguma forma paralela, onde existo.
Não preciso de dizer quem sou, algodão desnudo de uma essência muito própria, cheiro a perfume de Sr. de Matosinhos e das pipocas de corantes rosados e amarelados, numa mistura regurgitada de quem não sabe ao certo a qual dos dois pertence.


Digo que vejo os metros que passam, e os autocarros que se encontram num ponto só. Vejo a vida, que vive aos pedaços sem mim, simples viajante do tempo, real senhora do nada, que sente tudo da maneira mais desastrosa possível. Amalgama de fios confusos, cujo único sonho de lucidez mora lá longe, perto demais de um pequeno coração.

Afirmo, pois todos os dias a vejo, que a rapariga vestida de negro observa, de guarda-chuva em punho, aparando as neves por entre cada raio de sol.

Não há momento de sossego que salve de cada pensamento onde se intromete, nariguda desenhada com a função principal de me perguntar porquê.

Falem então, entre vocês, pois eu sinto os pássaros, as suas asas em horas a escorrer de um relógio que nunca para e nunca se move, o toque de alguém

diferente de todo o mundo ao redor
que cria casulos em volta dos nevoeiros da alma, e estende a mão a devaneios estupidificados de uma miúda que se julga crescida.
A mulher de negro ri, em descrença. Mas já nada tem a ver comigo, que me perco
por entre os caminhos que começam e acabam nos teus olhos.

Amem-se os pássaros e as asas que os levam em volta do mundo.
E a ti, e ao sorriso que paira entre duas almas.