sábado, 26 de novembro de 2011

A pele guarda as memórias mais perfeitas de sentimentos fortes.
Ela pode dizer, sem precisar de pensar muito, o que sentiu com essa troca de olhares, o que sentiu só pela proximidade dele, a forma de como isso ajudou a sarar as feridas abertas.
Ela pode dizer, sem dúvidas nem medos, como foi precioso e inesperado aquele abraço, que é pouco provável que se repita mas que, no entanto, repete-se vezes sem conta onde a pele queima, com um calor mais do que agradável.
Obrigada pelos teus abraços, meu amigo. Era só isso que queria dizer-te e, no entanto, não preciso. Tu sabes, tu entendes. Obrigada.

sábado, 19 de novembro de 2011

Antes da aula de Educação Física...

O coração dela bate com mais força. Tem medo, mas ao mesmo tempo invade-a uma excitação desconhecida, sobrenatural.
E se descobrirem?
E se não descobrirem?
Apalpa os braços, arrepia-se. Veste a T-Shirt e sente o ar frio da tarde a percorrer a sua pele ferida.
Dirige-se ao pavilhão, medo e ansiedade. Age da forma que lhe parece mais natural agir.
Ninguém vai descobrir, ninguém se incomoda a olhar.
E é então que se cruzam dois olhares. "O que é isso?" Seguram-lhe no braço e viram-no. Fixam a menina perdida e deixam-na de novo.
Como me devia sentir? Não compreendo. Pensei que não ias notar, mas queria que o fizesses. Porquê? Porque não me escondo?
O dia continua, mas ela já não se sente tão sozinha. E, de resto, o fim de semana é sempre lento, e talvez lhe dê tempo para pensar.
Todas as feridas cicatrizam, e não tem mal nenhum querer ser perfeita, querer estar no controlo dos sentimentos.
E o teu olhar está comigo.

domingo, 13 de novembro de 2011

Início de Inverno





Hoje, lembram-se dela, convidam-na. "Queres ir a um café?", mas ela abana a cabeça e sorri, não, não pode

não quer

não pode mesmo, tem de ficar a estudar.

Mas apetecia-lhe pousar os livros e sentar-se numa mesa a ouvir a chuva a cair com um chocolate quente nas mãos.

não quer
mas não pode, não pode mesmo. Vai ficar em casa.
Os outros acenam-lhe, de longe, vão caminhando debaixo de chuva, sorrindo. Ela fica para trás, olhando a chuva a deslizar pela janela.
não quero. Deixem-me estar. Quero
Volta costas e mergulha nos livros "organelos celulares; distâncias; Funções"

apenas ficar na cama
Pega na caneta e falham-lhe as palavras. Tem saudades

fechar os olhos. Adormecer.
da semana, do vento frio na pele, dos toques suaves, das gargalhadas, das gotas de chuva na cara.
Faz frio, lá em casa. Faz frio sem ti.










terça-feira, 8 de novembro de 2011

Cordas e sopros



Eles os dois são diferentes, não muito, mas o suficiente.
Ele é ele, sempre sorridente e conversador, transmite alegria e calor, é um sol em miniatura que ilumina o céu que ela observa da Terra
Ela é ela, escuta e opina, partilha bolachas, é uma espécie de lua, vagueia na noite estrelada.
São tão diferentes,
ele é feito de cordas esticadas, de sensações tácteis, de sons melodiosos.
ela é instrumento de sopro, toca em tons agudos ou graves, respira por pausas e vive presa na sua flautinha de bisel.
Ele deixa-se tocar, pressionar, moldar suavemente. Por vezes, solta-se e desafina.
Ela é mais prefecionista (?) ou apenas mais pequenina, menos confiante.
A verdade é que são diferentes, ele instrumento de cordas, táctil e melodioso.
ela instrumento de sopro, pequena e suave, ou grande e histérica, depende dos dias – dos dias em que está com ele ou sozinha (sim, porque a sua presença é calor, sol, alegria
a sua ausência dolorosa, a sua tristeza faz-se dela).

São tão diferentes, mas basta algumas semelhanças para rirem sem parar e falarem horas e horas. São amigos. E a melodia modifica-se, torna-se mais bonita. É uma melodia em conjunto, nenhum está sozinho.
E é muito mais belo um conjunto de cordas e sopros, do que uma solidão de qualquer um deles.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Peças Partidas



Pensava que ia ser mais fácil, de tal maneira que deixei o tempo passar, mais rápido, mais rápido, até finalmente o dia chegar.

Parece que ainda ontem planeava uma vida bem diferente da minha, seguindo-te por caminhos desconhecidos a mim mesma, e hoje esse sonho acordado já se desfez.


A culpa não foi tua, porque incentivas-me a seguir o meu caminho, nem que seja bem longe do teu, mas minha, que ainda não me resolvi a ficar sem ti.


Os dias parecem mais frios, e as dores mais profundas, chegou Novembro, mais depressa do que devia, e qualquer dia já é outro ano.


Entristece-me que não percebas quando digo que não sei o que fazer, pensei que perceberias as circunstâncias ditas atenuantes. Porque, meu querido, quando eu me for, também se irá a tua memória de mim e, apesar de tudo o que prometi, estou demasiado agarrada, já comecei a recolher folhas perdidas - pedaços de mim espalhados - que se vão soltando noite a noite, dia após dia.


Não entendes, ainda bem. Não sei como te sentirias se entendesses. Portanto, vamos só ficar assim, tu como sempre foste, e eu a fingir e a juntar peças partidas.