quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Caminhos

Andei perdida numa encruzilhada de caminhos. Andei enlouquecida, sem saber que direcção tomar, fiz escolhas más e tomei o caminho errado muitas vezes, porque todos os caminhos parecem certos até se revelarem errados.

Voltei para trás vezes e vezes sem conta, vasculhei a minha mente à procura da decisão final, do que me levasse, por fim, ao caminho certo.

Percipitei-me, acreditando que era desta que o conseguiria alcançar. Vi-me num caminho feio e cheio de silvas. Cheio de àrvores despidas, de memórias más, de tristeza, de condenação ao esquecimento.

Permaneci lá durante muito tempo, aninhada no chão, sem força para voltar atrás, sem possibilidade de resistir a outro caminho errado. Tão fraca...

... estava! Levantei-me, desembaracei-me de silvas, de picos que me perfuravam a carne, que me queriam manter presa no caminho errado.
Soltei-me, num único gesto de desafio.


Voltei atrás, numa corrida infernal e, enquanto arfava, vi-me diante de novos caminhos, que se abriam à minha frente como uma possibilidade. Se segui algum? Não. Ainda faço parte da grande encruzilhada da vida, não me decido a ir em frente, a virar à esquerda ou à direita. Sei, contudo, que não volto para trás.

Podem dizer o que quiserem, que eu já devia ter avançado, que escolho erradamente ao ficar no meio de tudo, que sou indecisa, que não tenho confiança em mim.

ESTÃO ERRADOS.

Porque o caminho que vejo é o meu e só EU é que o seguirei.
Portanto, sim. Tenho o direito, o dever de esperar, de escolher com calma e sabedoria. Não é mau estar numa encruzilhada. O pior mesmo é estarmos perdidos, num beco sem saída.

domingo, 22 de agosto de 2010

Caminhava, com passos incertos, não vendo nada para além do céu sobre mim e do chão, mesmo por baixo.

Calava a voz do pensamento, engolindo soluços, abrindo muito os olhos.

Caminhava, calava. Fixava um horizonte cheio de perguntas, tentava encontrar respostas.

Começou a chover.
E chorei, de novo, porque não podes apagar uma memória persistente, não podes largar-te daquilo a que te agarraste durante tanto tempo.
E chorei, lágrimas de chuva. Sabes porquê?

Porque a chuva não era bonita, nem romântica, nem suave. Era feia, cheia de ódio negro, dura como pedra, caindo em cima de mim com toda a força da minha raiva e da minha dor.

É dolorosamente maravilhoso como a Natureza capta, aos nossos olhos, o nosso estado de espírito. É como se estivesse a dizer:

Não estás sozinha. Eu choro contigo.
E era disso que eu precisava para tornar a olhar para cima, lágrimas de chuva misturadas com lágrimas de olhos feridos.

E vi.
Novamente.

Chegou!


Chegou o tempo novo, a hora esperada, os minutos contados, os segundos desejados.


Chegou o momento de deixar de pensar, de levar a vida tão a sério, porque séria já ela é, não precisa que a transformemos nisso!

Chegou o dia em que acordo e, apesar de desejar adormecer de novo, me levanto e abro as cortinas, deixo o sol entrar e afogar-me na sua luz brilhante, afastar-me da escuridão dolorosa e aterrorizadora!

Chegaram os segundos em que não me volto para trás para saber de ti!

Chegaram os minutos em que rio e choro, mas que penso apenas: "Não estás? Não estejas!"

Chegou a hora em que abraço quem nunca pensei poder abraçar, chegou a hora em que grito porque me apetece, em que faço poses tolas para me rir delas mais tarde, chegou a hora em que brinco com tudo, como quando era pequenina,

chegou a hora em que limpo as lágrimas e as prendo entre os meus dedos, chegou a hora...
... finalmente, esperei e valeu a pena?
Não sei, porque as memórias são persistentes, aborrecidas, egoístas.

Chegou! Valeu a pena?
Não faço a mínima ideia.

Vou aproveitar cada segundo e cada momento que viver nessa hora de duração não prevista? Vou aproveitar cada segundo em que vejo um raio de sol em vez de uma sombra escura? Vou aproveitar cada memória nova, cada palavra, vou repensar e pensar mas sem me preocupar em saber se faço sentido?

VOU!
CLARO QUE VOU!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tento saír da escuridão, apanhar a luz nas minhas mãos e iluminar o meu rosto.
É dificil, muito dificil, porque ela arranja sempre maneira de saber o meu nome, apesar de todas as vezes em que escapei, ela não esquece, é paciente, aguarda.
Quando sinto que estou a despertar, que posso abrir as cortinas e a luz volta a brilhar, o sono agarra-se a mim, impede-me de viver, tenta arrastar-me de novo, como se fosse uma grande e pesada mão a puxar-me de volta às profundezas.
Está tudo negro, por aqui. Não há branco, nem matizes de cinzento.
Mas eu não quero uma vida negra e, por muito que me arrastem, vou lutar com unhas e dentes, com todas as minhas forças, para sair, para voltar a viver.
Porque mesmo que a minha vida esteja, agora, atrasada, tenho de a recuperar, não interessa se doi e se irá doer mais, não posso ser prisioneira da sombra e do medo.
Tenho de voltar ao sol, à vida, à alegria.

Vai custar e, muitas vezes, vou pôr-me de pé e caír de novo. Mas não me importa, a única coisa necessária é saber que ainda estou a lutar e que não desistirei.

Mesmo que leve toda a minha vida a tentar vivê-la.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Porque a força não está nos grandes discursos mas nas pequenas palavras.
in Quantas estrelas tem o céu by: Giulia Carcasi
Se doi? Se estou mal?
Sim, muito.
Mas não quero pensar nisso. Recuso-me a pensar nisso.

sábado, 14 de agosto de 2010

Sigo em frente, a passo.
Estou segura do que fazer a seguir.
Abraço-me, visto o casaco, saio porta fora, caminho de cabeça erguida.

De repente, o medo invade-me, a dúvida percorre-me, os suores frios, as lágrimas, as memórias, tudo me assola em massa, envolvendo-me. Começo a correr, aperto mais os braços à minha volta, aperto o casaco para lutar contra o vento que vem da direcção contrária, abrando, mas tento não me deter, baixo a cabeça e fixo as pedras no passeio.

Paro. Não posso, perdi a segurança. Estico o pescoço, engulo o choro convulsivo e, num momento silencioso...
... volto-me para observar se ainda estás aí... Se me vês partir...
Se me queres ver voltar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O tempo passa. Mesmo quando tal parece impossível. Mesmo quando cada tiquetaque do ponteiro dos segundos dói com o palpitar do sangue sobre a ferida. Passa de forma irregular, em estranhos avanços e pausas que se arrastam. Mas, lá passar, passa. Até para mim.

in Lua Nova by: Stephenie Meyer
Podia mudar o mundo só com uma palavra, porque tinha ao meu lado quem o mudasse comigo.
Podia perder-me que não me perdia sozinha e, no final, era reencontrada.
Podia sorrir, porque sorriam-me de volta.
Acreditava que o futuro era um sonho enevoado, um desejo que se realizava, um novo dia à nossa frente.
Alegrava-me no mais triste momento, apenas com uma palavra. Com um sorriso, com uma conversa.
Tocava nas estrelas, sentia as nuvens, o calor do sol, a textura da chuva.

Não posso mais.
Podia... Mas já não sei que palavras dizer, que movimentos fazer, como sorrir, como me reencontrar, como me alegrar, como acreditar.
Podia... Mas já não posso.


Um dia, só um dia, talvez consiga olhar de fronte para o sol.
Hoje, tudo o que eu vejo são nuvens.
What do you want to talk about?
How bad it feels to sit here and wait for you?


The Time Traveler's Wife
Mas as estrelas, quantas são?
Tantas, demais...
351
in Quantas estrelas tem o céu by: Giulia Carcasi

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Olho sem ver, o meu olhar preso numa memória intemporal que se desenrola mesmo à minha frente.
Chama por mim, essa memória e, no momento presente, dou por mim a avançar incrédula, mas também credulamente para ela.

Avanço um passo, dois, começo a correr, lutando contra o tempo para a alcançar...
Abro os braços, como se para abraçar algo palpável e distinto.

É aí que, num rasgo de inteligência, me apercebo de que foi, de que não é.
Um rasgo de surpresa, de saudade... Uma memória que se desvanece...

Desaparece, enfim, do meu mundo e, enquanto olho mudamente pela janela onde o sol se põe, descubro o meu reflexo e não o passado presente.

E olho, cada vez mais, à procura.
E continuo sem ver.
"Mas tentamos virar as costas ao nevoeiro e olhar de frente para o sol" in Lolita by: Vladimir Nabokov

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Agarro-me a cada momento, a cada sílaba de cada palavra pronunciada, a cada suave sorriso, a cada gesto lembrado e a cada mensagem lida, a cada coisa que não me deixa esquecer, que me faz acreditar que é real... Ou que foi...
Mas desaparece e, no fim, só fica a memória de um rosto, apesar do esforço, apesar de todas as tentativas...
Não esqueço. Não consigo. Mas, dentro de mim, fica a saudade que corrói e a dúvida que magoa e o pensamento de que só há memórias e não futuros.
E é triste como me vejo num estado letárgico, onde me agarro a qualquer réstia de momentos imperfeitos de felicidade que existiram, para sentir que existiu...
É patético... E, no entanto... Tenho de acreditar... É tudo o que me resta...