quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Cinco segundos

Quando tinha dezoito anos, a minha melhor amiga desapareceu. Foi um dia completamente normal, só que eu cansei-me de olhar para as estrelas.
Ela acenou-me, lá de longe, na outra ponta do mundo, e eu não notei.
Voltei-me por cinco segundos. Cinco segundos exatos.
Só.
Cinco.
E ela já lá não estava. Acenei para o infinito, sabes? Como se um voltar do pulso a trouxesse de volta. Estava a chover, lembro-me perfeitamente.
Quem diria que demorava tanto a abrir um guarda-chuva.
Esses cinco segundos? Conto-os para sempre.
E agora, já não me cansa olhar as estrelas. Agora perscruto-as, à procura da sombra dela.
Tem que ter uma sombra
Não é?

Alice parou de andar. Voltou-se para mim e sorriu, sorvendo o fumo do cigarro como se zangada com o mundo.

- Foda-se Sam, o que eu dava para ver uma das tuas sombras.

Porque, se calhar, dizia-me onde ela estava.
E eu podia olhá-la por mais cinco segundos.